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Por que estudantes largam o curso de computação?


002Durante várias gerações, o sonho de muitos pais era ver seu filho se formar em direito. Os tempos hoje são outros e a procura por cursos tradicionais como direito e administração vem diminuindo. Mas, engana-se quem imagina que eles estão sendo substituídos por graduações ligadas à área da tecnologia. As faculdades de TI são exatamente aquelas com a maior taxa de evasão de alunos atualmente.
Segundo pesquisa do Semesp, sindicato das instituições privadas de ensino superior do Estado de São Paulo, quase 73% dos alunos de ciência da computação desistem da faculdade – nos cursos de sistemas de informação, o percentual é de 67,3%. “Essa alta taxa de evasão acontece porque o mercado de TI está aquecido e muitas pessoas estão conseguindo emprego mesmo sem o diploma”, explicou Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp.
O analista de sistemas Marcos Choma viveu essa situação. Cursando o terceiro ano de ciência da computação na Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele foi convidado para trabalhar em São Paulo com um salário superior ao que recebia em Curitiba. “Na área de TI o profissional cresce rápido e a experiência é um diferencial importante. A graduação é muito teórica e generalista”, diz Choma, na área desde os 17 anos. Ele destaca, porém, que pretende retomar a faculdade. “Para cargos acima de gerência é preciso ter diploma e, principalmente, uma especialização”, ressalta.
A Impacta, faculdade voltada para o segmento de TI, também percebe esse movimento. “As pessoas que já tem o conhecimento prático muitas vezes acabam desistindo ou adiando a faculdade”, diz Célio Antunes, presidente da Impacta e um dos fundadores da Microtec, fabricante brasileira de computadores que fechou as portas no início dos anos 2000.
Outro fator que faz muitos alunos desistirem dos cursos de TI é a exigência de conhecimentos de matemática. Segundo Antunes, muitos calouros se surpreendem com a demanda de cálculos e outros conhecimentos nas áreas de exatas. “Realizo várias palestras para os vestibulandos e indico cursos técnicos, de menor duração, para quem tem dúvidas de qual carreira seguir”, explica Antunes.
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Na contramão, cursos como engenharia, gestão de logística e de recursos humanos estão despontando por conta da demanda do mercado por esse tipo de profissional. “Esse fenômeno fica mais evidente por conta do aumento de pessoas das classes C e D no ensino superior”, afirma Capelato, do Semesp. De acordo com ele, esse público normalmente se inscreve em cursos de áreas nas quais já estão trabalhando, pois precisam de um diploma. Nas classes A e B, prevalecem a aptidão vocacional ou o desejo da família. Além disso, carreiras como direito e administração sofrem com excesso de mão de obra e maior rigidez na aprovação de exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
De olho na tendência de que os cursos tradicionais tendem a diminuir, uma das instituições de ensino que vem apostando na diversificação é a Anhembi Morumbi, do grupo americano Laureate. Atualmente, 32% dos cursos da universidade são classificados como inovadores, ou seja, criados para atender às atuais demandas do mercado. Entre eles, há cursos como design de games, aviação civil, gastronomia, produção fonográfica e moda. “A Laureate é um grupo internacional e nossa iniciativa em criar esses cursos no Brasil foi com base na experiência que tivemos em outros países”, afirma Oscar Hipólito, diretor geral da Laureate.
Segundo ele, a taxa de desistência dos cursos chamados inovadores é inferior aos tradicionais. “Eles são mais específicos e, em razão disso, os interessados têm mais certeza do que querem”, diz. Já em administração, por exemplo, o aluno muitas vezes não tem certeza de qual caminho quer seguir, mas sabe que o curso abre diversas possibilidades. Não por acaso, graduações na área de saúde como medicina, odontologia e enfermagem, que demandam vocação, são os que têm a menor taxa de evasão.

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